Tom voltou a entrar no quarto com uma bandeja nas mãos. Nela trazia chá e torradas para ambos. Viu Mel com o papel na mão. Pousou a bandeja e ajoelhou-se ao lado de Mel.
- O que é isto Tom?
- A letra de uma música que eu escrevi.
- Escreveste-a porquê? É uma música tão triste.
- Quando a minha namorada morreu, eu passei dias sem falar. Tranquei-me neste quarto, não deixei ninguém entrar. Pouco comi. E essa música foi a primeira coisa que consegui fazer para expressar os meus sentimentos.
- Gosto da letra, mas…
- Sim, eu sei. É triste. E é assim que eu me sinto. Nunca a mostrei a ninguém. És a primeira pessoa a vê-la. – Mel pegou em algumas fotos que se encontravam na caixa.
- E estas fotos? Era a tua namorada?
- Sim. Quando ela morreu, eu reuni todas as fotos que tirámos juntos e guardei-as nessa caixa, para não deixar as minhas memórias desaparecerem.
- Não são as fotos que te vão manter as memórias. O que te vai impedir de as esqueceres é isto. – Pousou a sua mão sobre o lado esquerdo do peito de Tom. Tom retirou a mão de Mel. Não gostava quando lhe falavam de assuntos relacionados com o coração, porque o fazia lembrar o tempo em que estivera apaixonado.
- Eu lembro-me de todos os momentos que passámos juntos. Tanto dos últimos como dos primeiros. Lembro-me da primeira vez que trocámos um olhar. Da primeira vez que nos tocámos. Da primeira vez que nos beijamos. Da primeira vez que dissemos que nos amava-mos.
- Eu gostava de te puder voltar a ver como nas fotos. Feliz.
- Eu também gostava de puder voltar a ser assim. Mas não consigo. Não sem ela. – Tom procurou uma foto no fundo da caixa. Pegou nela e colocou-a na mão de Mel.
- Vês como ela era parecida contigo? – Mel olhou atentamente para a fotografia. Ficou espantada ao vê-la. A rapariga que sorria na foto, era igual a ela. Os lábios, os olhos, o cabelo, o tom de pele…. Tudo correspondia na perfeição.